Inovações | Economia criativa e criatividade na economia
Um movimento que tende a crescer nas empresas preocupadas com o futuro.
A crise mundial gerou uma nova onda de debates sobre economia criativa. Em alguns países desenvolvidos, desde os anos 90 o mercado vem sendo impulsionado por essa visão, que ganhou, inclusive, espaço nas políticas públicas.
A economia criativa nasce da constatação de que as sociedades modernas carecem de inovações capazes de gerar idéias para atender demandas não exploradas. Por carência de matrizes geradoras de propostas fora da rotina, os produtos e serviços tendem a se perder na mesmice. Em momentos de instabilidade, como o atual, todos padecem por falta de alternativas.
A aplicação do conceito passa pelo rearranjo da produção, a relação entre as pessoas, investimento em pesquisas, qualidade de vida e sustentabilidade. Tendo sempre o cliente como foco. A ênfase é dada ao potencial cultural de cada país e ao aprimoramento da percepção da realidade.
O fim é a redescoberta do cotidiano, o repensar das necessidades, a criação de plataformas de inovação contínua dentro das empresas, com designs diferenciados aos produtos e estratégias de ação que surpreendam, mas sem se perder na irracionalidade.
Num primeiro momento, como exemplo, pode vir à mente o mercado de entretenimento, como a indústria da música, do cinema, dos brinquedos e das artes em geral. Mas não é só isso. A proposta é aplicada também à economia tradicional. Nesse sentido, qualquer empresa disposta a se abrir para idéias que geram idéias pode se beneficiar e crescer.
Na Inglaterra, por exemplo, o ex-primeiro-ministro Tony Blair levou a sério a economia criativa por não vislumbrar, na ocasião (anos 90), outro caminho para tornar seu país competitivo no mercado internacional e proporcionou fortes investimentos públicos ao setor privado.
O mesmo ocorreu na Irlanda, que se destacou mesmo não tendo uma indústria forte e commodities para abastecer o mundo. Neste segundo caso, a força motriz foi mesmo a indústria do entretenimento.
Nesse mercado em constante transformação, dizem os especialistas, o desafio da inovação não está restrito às revoluções tecnológicas ou à criação de produtos espetaculares. As idéias criativas podem ser úteis às empresas de várias formas, como o desenho de um novo processo que melhora a qualidade ou a produtividade, ou reduz os custos, tornando-as mais competitivas. Pode também ser a reorganização de um serviço que simplifica e acelera o atendimento aos clientes.
A economia criativa é a matriz para o desenvolvimento de recursos inteligentes e econômicos, que respondam às questões ambientais, seja ao se pensar em construção de casas populares ou fábricas, criação de produtos e serviços. As obras arquitetônicas que seguem o conceito são equipadas com captadores de energia solar, sistemas automáticos de liga e desliga para lâmpadas, aparelhos eletrônicos e torneiras, novos materiais que permitem a criação de ambientes equilibrados termicamente e equipamentos que reduzem resíduos sólidos. No caso dos captadores de energia solar, o Chile saiu na frente, com políticas arrojadas de incentivo.
Outro exemplo são os carros menores, que causam menos impacto ambiental, pois trazem tecnologias avançadas e desenhos compatíveis às exigências dos consumidores nascidos em um mundo complexo e cheio de problemas, por isso tendem a exigir produtos sustentáveis.
No Brasil, recentemente o jornal Valor Econômico, em parceria com a São Paulo Fashion Week (SPFW) e a In-Mod, organizou várias palestras para tratar do tema. O inglês John Howkins, autor do livro The Criative Economy, esteve no evento e disse que a economia criativa tem sido apontada como o principal caminho para as empresas saírem mais rapidamente da crise.
Como exemplo citou a GM americana que, mesmo na condição de concordatária, seus designers de veículos de baixo custo vão muito bem. Howkins recordou ainda New Orleans, EUA, e a destruição provocada em 2005 pelo furacão Katrina. Em sua opinião, foi a economia criativa que ajudou a reconstruir a cidade.
Alexandre Novakoski, gerente de canais da Seal Telecom, conta que uma das medidas que os executivos estão adotando para enfrentar o cenário caótico do trânsito e aeroportos nas grandes cidades é a comunicação unificada, via tecnologia IP. As conferências e reuniões feitas por meio de videoconferência evitam deslocamentos constantes com viagens e agilizam o processo de tomada de decisões. Reduz não só os custos corporativos como também a emissão de gás carbônico na atmosfera. Ou seja: “a empresa, o meio ambiente e as avenidas saem no lucro”.
As questões ambientais têm mobilizado as entidades empresariais no Brasil para que apresentem modelos de condutas criativas e bem sucedidas de empresas que se utilizam de modernos conceitos e práticas em responsabilidade social. Um exemplo é o programa Sou Legal, coordenado pelo Comitê de Responsabilidade Social (Cores) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O Programa acredita que “adotando estratégia de desenvolvimento, crescimento e qualidade de vida para os seus colaboradores e familiares, o industrial investe no ser humano, que responderá com motivação e criatividade, resultando em aumento de produtividade e competitividade”.
O Programa Sou Legal disponibiliza as ferramentas oferecidas pelo Sesi e Senai e por um grande número de parceiros, como Instituto Ethos, Sebrae, Canal Futura, Instituto Akatu, Bolsa de Valores Sociais e Associação Brasileira do Câncer.
De acordo com a coordenadora do Programa, Eliane Belfort, “é possível implantar políticas de responsabilidade social empresarial, sem onerar o orçamento, identificando ferramentas que podem melhorar a produtividade, a qualidade dos produtos e contribuir para o crescimento do país e da sociedade brasileira”.
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